Em Meio aos Ruídos Urbanos



Acionando o não automatismo



     Em meio aos ruídos urbanos é um objeto visual que apresenta momentos da cidade como todos a vemos, porém enlaçado em instigações poéticas. Contendo uma estrutura compositiva crítica, linguagem e texto propõem um passeio acessível e sutil sobre as ações e fatos que nos acompanham na vivência urbana.

    Apresenta um corpo estético sólido, em preto e branco, evocando o cinza da paleta urbana, este objeto que explora do campo das visualidades são imagens que nos habituamos a ignorar. Em meio aos ruídos urbanos mostra uma cidade que constitui um todo imagético; um organismo com especificidades e funcionalidades distintas, em contrapartida aos estereótipos construídos midiaticamente.

      A cidade, o meio urbano, esse turbilhão de sensações e imagens que correm a toda velocidade e a alto e bom som, exacerba os nossos sentidos transborda pelos limites de nossos olhos. Na maioria das vezes o ato de ignorar seja a mais adequada ferramenta de proteção diante tantas e tão nocivas informações. Habituamo-nos a essa vivência automática com a cidade; insensível ao entorno, fazemos de regra uma ação que anula nossa experiência com o lugar em que vivemos.

    Considerando nossa condição de seres urbanos pós-modernos, essa leitura automática engole também nossa percepção de tempo e espaço, sendo a arte o lugar de recolocação da nossa experiência no mundo, o lugar em que se grita o não ao automatismo.

    Explorar esse universo, utilizando uma composição poética em meio a letras e imagens, é um protesto claro contra essa automatização. Uma bandeira de que pela sensibilização temos uma ação de compreensão do todo, do nosso lugar.

     Analisando a forma que essa movimentação é captada, considerando os poemas visuais um todo poético, identifica-se a lógica fotográfica de captação do instante, porém com um caráter da fotografia moderna, o de recorte munido de intencionalidade.

   Podemos assim afirmar que Em meio aos ruídos urbanos anuncia uma presentificação das subjetividades da experiência na cidade. Enfim, os poemas visuais utilizam um mecanismo de composição que presentifica momentos urbanos, dotando-os de um comprometimento com a reflexão.

   Segundo o fotógrafo Cartier-Bresson, “no ato de viver, a descoberta de nós mesmos se faz concomitantemente com a descoberta do mundo que nos cerca; mundo que pode modelar-nos, mas também pode ser por nos afetado.” Esse casamento de imagem e letra, essa música visual apresenta uma leitura da experiência urbana, da experiência com o silencioso, que nos convida a esse ato de “descoberta do mundo”, sendo por esse nosso ingresso na possibilidade de afetá-lo e se afetar por esse lugar que nos passa, por vezes automaticamente, enquanto passamos.


Aline Araújo




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